Já faz um tempo que eu gostaria escrever sobre o transporte de medicamentos em viagens ao exterior. Geralmente este assunto costuma ser obscuro contraditório e cercado de dezenas de informações baseadas em “achismos” ou “bom senso”, nascidos na ausência de campanhas públicas informativas, que colocam em risco a segurança de viajantes brasileiros.
Um exemplo deste achismo é o modo que pensamos estar seguros transportando medicamentos somente com uma prescrição médica. Sempre me pareceu óbvio que aquelas prescrições eram somente um “limpador de barras”, e no fundo eu nunca acreditei que as pessoas ficassem lá tão seguras da validade deste documento fora país, que claro, não basta! Aliás, eu queria muito saber por que um cidadão acha que o seu médico é capaz de lhe dar carta branca para trafegar com medicamentos controlados entre aeroportos do mundo? De onde veio isso? Na boa, nem se o Papa fosse nosso médico conseguiríamos convencer uma fiscalização aduaneira a autorizar a entrada de medicamentos através de uma simples prescrição médica.
[mks_pullquote align=”left” width=”300″ size=”12″ bg_color=”#438791″ txt_color=”#ffffff”]DICA: Quem embarca para os Estados Unidos pode contar com a ajuda da TSA (“A Infraero Americana) para conhecer os procedimentos para cada medicamento acessando este link.[/mks_pullquote]
Mas se isso já aconteceu contigo (o que é capaz) tenha certeza de que o agente aplicou a universal e subjetiva ciência bom senso próprio. Mas, não tente passar por isso no dia seguinte ao dia que a Dona Maria foi dormir de calça. O bom senso pode ser outro…
Alguns medicamentos possuem ainda substâncias proibidas em determinados países. Isso é potencialmente perigoso se você considerar que alguns destinos aplicam sumariamente a pena de morte por tráfico transnacional de entorpecentes, então pelo amor de Deus, caso esteja carregando medicamentos pouco convencionais (principalmente em quantidade excessiva) sempre verifique junto aos consulados se existem restrições à entrada de determinados medicamentos.
Quer um exemplo? Até pouco tempo atrás a Anvisa ainda não tinha regulamentado o uso de medicamentos a base de canabidiol. Enquanto diversos outros países do mundo já haviam regulamentado seu uso, e a população (inclusive viajantes) já utilizava este medicamento cotidianamente qualquer turista desinformado que desembarcasse aqui em posse destes medicamentos em flagrante seria indiciado por descaminho (dependendo da quantidade) e tráfico transnacional de drogas. E então eu pergunto: De que serviria a prescrição médica dele? Então, se um médico estrangeiro de modo algum tem autonomia para dar carta branca à entrada de medicamentos aqui no Brasil, porque pensamos o contrário?
Eu não sei, também não vou pesquisar sobre o ASSUNTO, mas por alguns segundos me veio a cabeça a merda que você pode arrumar embarcando com medicamentos como este para Bali.
Ok! Reconheço que utilizar um medicamento à base de canabidiol como exemplo pode parecer uma comparação extremista, longe do cotidiano da maioria esmagadora das pessoas, mas é importante entendermos que culturas diferentes possuem leis e regras diferentes. Portanto, os modos de enxergar a questão dos medicamentos pode variar drasticamente, principalmente quando tratamos da quantidade envolvida para um suposto tratamento.
Brasileiros são viciados em medicamentos, e este uso abusivo e não controlado, somado ao visível péssimo hábito médico na prescrição fazem com que sejamos um dos maiores consumidores de medicamentos do mundo. Se concordarmos que está tudo errado por aqui, porque não podemos acreditar que outras culturas tenham medidas mais duras e punitivas para o transporte de quantidades abusivas segundo seus padrões culturais? Algum agente aduaneiro é obrigado a entender os motivos quem levam a Dona Maria carregar uma farmácia inteira na bolsa? Não, ele não é. Mas para nossa sorte, na maior parte dos destinos internacionais, ele provavelmente irá utilizar seu treinamento e urbanidade para constatar que a Dona Maria nada mais é que uma brasileira viciada em medicamentos, e não precisará trata-la como traficante ou contrabandista. Mas isso, claro, será determinado no fio do bom-senso do Bob, mas provavelmente se ele quisesse encrencar, ele poderia.
[mks_pullquote align=”right” width=”300″ size=”12″ bg_color=”#438791″ txt_color=”#ffffff”]QUADRO: O Brasil é o quinto maior consumidor mundial de medicamentos. Consumimos 90% de todos os medicamentos para emagrecer fabricados no mundo (Possuímos 10 milhões de miséravéis e 50% da população nas classes D-E). O segundo medicamento mais consumido no país um é tarja preta comumente utilizado para depressão, o Rivotril.[/mks_pullquote]
Mas antes que alguém me apareça com bandeira Uma fazer “Ahhh Não É Bem assim!” eu mesmo falo: “Não é bem assim!” As regras de entrada em países e própria globalização ajudam a “padronizar” os comportamentos e a identificação de medicamentos nos destinos pertencentes a esta nossa conhecida “ordem global”. Esteja certo que, fora o fato de você estar carregando uma quantidade absurda de medicamentos (bem comum a brasileiros que irão residir temporariamente no exterior) ninguém irá te interpelar caso você esteja carregando medicamentos patenteados globalmente por grandes laboratórios, seja lá qual for a tarja dele.amentos manipulados. Neste caso esqueça qualquer bom senso, pois se o Bob encontrá-los na sua mala uma nuvem se formará e você precisará estar bem documentado. O mesmo vale para as homeopatias, que como não podem passar pelo raio-
x automaticamente se denunciam quando você tem que entregá-las para inspeção de segurança. Então, se sabemos que a prescrição médica particular não tem lá muita validade, como devemos fazer?
Posso parecer furtivo, mas o primeiro conselho que eu te dou é buscar ajuda de um Centro de Atendimento ao Viajante credenciado Pela ANVISA. Lá você deve solicitar uma prescrição feita por um agente público, traduzida ou para o Inglês ou melhor ainda para o idioma do destino. Então, para não perder tempo já leve suas prescrições médicas particular indicando a posologia, o tempo de tratamento, e a quantidade levada. Lembre-se que seu nome deve ser sempre igual ao escrito em seu passaporte.
Como em 90% dos casos os agentes da Anvisa não vão conseguir te dar uma posição firme sobre substâncias proibidas em alguns destinos (também não é atribuição deles) o segundo passo é você buscar informações no consulado. Isso é válido quando você está viajando para o exterior com medicamentos controversos, geralmente alternativos, e que por algum motivo você não se sente absolutamente seguro da entrada daquela substância no seu destino. Não custa lembrar que alguns medicamentos “feitos à partir” de drogas ilícitas como ópio, heroína, coca e canabis podem caracterizar tráfico de drogas segundo as leis de seu destino, portanto mais uma vez reforço a importância de entrar em contato com consulados, seja por telefone, pelo site, mas preferencialmente sempre registre via e-mail.
[mks_pullquote align=”left” width=”300″ size=”12″ bg_color=”#438791″ txt_color=”#ffffff”]QUADRO: Insano pensar que utilizávamos gotas e tabletes de cocaína contra dor de dente e garganta. Ópio para asma e também para acalmar bebês (essa é demais!). Uma tosse? Era fácil! Bastava dar à criança um pouquinho de heroína! Mas se ela não comesse direito, o melhor era um bom vinho de coca para aumentar o apetite![/mks_pullquote]
Organizando documentos e medicamentos
Antes do embarque finalmente organize seus medicamentos e documentos. Todos os documentos obviamente devem ir na bagagem acompanhada junto com os medicamentos que forem ser utilizados durante o vôo, as homeopatias, a insulina, e também alguma pequena reserva para os casos de extravio de bagagem. Mais nada.
Os demais medicamentos que vão na bagagem despachada não ficam isentos de prescrição, portanto leve-as em sua bagagem acompanhada caso precise apresentar esta documentação. Colírios e outros soros ficam isentos destas prescrições, mas outra vez cabe lembrar que isso vale sempre para quantidades razoáveis, e no caso de embarques aéreos devemos sempre estar atentos também ao volume máximo de 100ml.
Fora os colírios e soros todos os medicamentos na bagagem de mão a princípio devem ter uma prescrição médica, porém como já falamos antes não precisa se molestar para levar uma cartela de analgésicos. Apenas evite deixá-las fora da cartela e da caixa com a bula acompanhada. O mesmo deve ser feito com seus medicamentos despachados, e tenha atenção especial aos medicamentos controlados, tentando sempre preservar a embalagem original e os lacres de segurança.
[mks_pullquote align=”left” width=”300″ size=”12″ bg_color=”#438791″ txt_color=”#ffffff”]QUADRO: Certa vez quando fui escalar no Chile me pararam por conta de uma sacola cheia de um gel de alimentação sintética que eu iria testar para desenvolvimento de uma pesquisa da UFRJ. Era um gel super suspeito realmente, mas como o cachorro ficou tranquilo e eu apresentei a documentação oficial brasileira, na mesma hora os agentes guardaram o gel na mochila e me desejaram boa estadia. Foram diretos e educados muito provavelmente porque eu prestei exatamente a documentação que eles esperavam de um viajante, mas não acredito que eu me livraria deles se eu apresentasse uma prescrição do meu médico particular por exemplo.[/mks_pullquote]
Como a homeopatia e os manipulados (incluindo vacinas) não são pertencentes a laboratórios conhecidos mantenha-as intactas e esteja pronto para perder uma unidade para exame de reação que podem ser realizados a critério dos agentes. E Fora o caso da homeopatia, eu não aconselho apresentar prescrições médicas sem que elas sejam solicitadas, nem mesmo sobre medicamentos controlados. Não é crime algum transportar medicamentos controlados em quantidades compatíveis com sua viagem, portanto não irá ser problema e nem tampouco mal visto apresentar a documentação apenas se for solicitado.
O que eu não devo levar?
Se você faz uso de um tratamento alternativo e possui profundas dúvidas sobre a permissão de entrada deste tratamento em outro país avalie a necessidade de seguir com o tratamento naqueles dias. Consulte seu médico ou terapeuta sobre o assunto, mas não coloque sua liberdade em risco, especialmente se souber que seu medicamento possui substâncias proscritas em leis de diversas localidades.
Substâncias proscritas podem ser entendidas como um grupo que atende drogas ilícitas, medicamentos feitos a partir destas drogas, e até mesmo espécies in-natura. O transporte destas substâncias pode ser caracterizado como tráfico internacional de entorpecentes, e em alguns países como China, Indonésia, Vietnã a pena prevista é a execução. Sem querer dar uma de neurótico lembro que estes países não podem ser considerados exemplos na questão dos direitos humanos, então para provar que bife de caçarolinha não é rifle de caçar rolinha, não espere tanta cortesia e oportunidade.
Pra ficar atento aos componentes de seus medicamentos e até mesmo a outras substâncias que carrega consigo, como temperos, chás e espécies, saiba que qualquer componente psicoativo como a dimetiltriptamina, utilizados no chá ayahuasca e jurema na amazônia são considerados entorpecentes para quase todos os países do mundo. Fora a dimetiltriptamina espécies ou derivados da trombeta de anjo, erva do diabo, zambuba, aguadeira, cacto peiote, papola dormideira, salva, menta mágica ou uma infinidade de espécies que não mencionei aqui também irão te enfiar no grampo no exterior, porém não pense que droga é apenas óbvio e consulte sempre a Anvisa e o próprio consulado antes de confiar no que sai lendo por aí.