Como as duas moedas circulantes em Cuba aprofundaram ainda mais a desigualdade e trouxeram de volta problemas antigos, como a máfia e a prostituição.
Os salários mensais estatais em Cuba variam entre US$ 20 a US$ 40 pagos obviamente em pesos CUPs, então uma dúvida simples é: Como que o camarada me enche o tanque de um Cadillac que consome 1litro para cada 4 quilômetros, se a gasolina custa um pouco mais de 1 dólar?
Mesmo com a Venezuela dando uma boa força, o preço da gasolina é um pouco mais de $1 CUC, e portanto para um médico cubano que ganha aproximadamente 500 pesos por mês, encher o tanque de um Cadillac custaria mais do que todo salário mensal. Seria simples dizer que um médico, um engenheiro, um físico nuclear em Cuba não andam de Cadillac, mas não é tão fácil explicar como existem tantos Cadillacs na rua, sem ter que concordar com os letreiros que a embaixada americana chegou a colocar em sua fachada anos atrás: “As mentes que poderiam dirigir este país dirigem um taxi”. (Em reação à isto comicamente Fidel Castro hasteou 138 bandeiras em frente a Embaixada).
Existem poucos segmentos privados em Cuba. Mas ao longo dos últimos anos, o regime que estatizou até a barraquinha de cachorro quente (sem exageros) já não aguenta o custo da máquina pública frente à uma produção industrial pífia. Hoje demite, e abre espaço para exploração de segmentos em troca de impostos, testemunhando um sucateamento da indústria que começa quando sua mão de obra mais promissora substituiu o conhecimento pelo volante de um carro. Afinal, por que trabalhar para um estado quebrado quando se pode ter acesso ao mínimo de dignidade nas ruas? Por ter acessos aos CUCs, dirigir um coco-taxi é sem dúvida mais lucrativo do que ser engenheiro em obras, ou fazer complicadas cirurgias cardiológicas.
Seria muito bom se a busca pelos turistas se resumisse às atividades como trabalhar em taxis, em restaurante e paladares (restaurante familiar autorizado a atuar economicamente), ou mesmo nos serviços de hotelaria. Entretanto, ironicamente essas duas economias funcionando em paralelo trouxeram para Cuba de volta as mesmas mazelas que motivaram o fim da ditadura de Batista no final da década de 50; A máfia e a prostituição.
A busca pelos CUCs não se restringiu à atividades legais, e nos ficou claro que o estado que mal se aguentava em pé também tolerava essas práticas nas ruas e em seus gabinetes. Trabalhadores que não tem acesso aos CUCs cobram proprinas para executarem suas atividades ao público, e o nível de corrupção na ilha é, segundo os moradores, maior do que na era Batista.
Sabendo que a trampa (popular jeitinho) é um bom negócio, o governo nos pareceu um cafetão. Só que ao invés de agenciar prostitutas eles vendem a mão de obra dos trabalhadores para empresas privadas estrangeiras que investem em Cuba, ou mesmo para outros governos. É o caso do programa Mais Médicos no Brasil. Assim eles pagam para o profissional um péssimo salário, mas recebem um valor bem mais alto para seus cofres.
Por isso sempre falamos que Cuba não é um grande exemplo para quem apóia as boas virtudes do comunismo. Quem curte manter Cuba presa enquanto turistas se divertem as custas de carros antigos e praias paradisíacas, nos soa profundamente mais egoísta do que quem paga para entrar em circo com animal.